M Ã E !
Silêncios de mim ...
Bom dia ,
Sei que aí , no céu , estás em paz e nem te lembras do teu dia de anos .
Parabéns , minha querida Mãe !
Um beijinho .
Temos muitas saudades tuas ...
"Nasci branco de segunda Calcinhas ou kaluanda Nasci com os pés no mar ... em São Paulo de Loanda Brinquei de pé descalço Em poças de águas castanhas Tive lagartas da caça Não escapei às matacanhas Comi manga sape-sape Fruta-pinha tamarindo Mamão a gente roubava No quintal do velho Zindo Pirolito que pega nos dentes Baleizão, paracuca E carrinhos de rolamentos Numa corrida maluca Tinha o Gelo, tinha a Biker Miramar e Colonial O Ferrovia, o Marítimo Chás dançantes no Tropical O N'Gola era só ritmo O Liceu uma lenda Kimuezo e Teta Lando E os Ases do Prenda Havia velhas que fumavam E velhos com ar de sábio Enquanto novas músicas Se insinuavam na rádio "E a cidade é linda É de bem-querer A minha cidade é linda Hei-de amá-la até morrer" Quem não estudou no Salvador? Quem não se lembra do Videira? E das garinas de bata branca Nossas colegas de carteira? Depois havia o Kinaxixe Futebol era nos Coqueiros Havia praias, um mar quente Savanas imensas, imbondeiros E havia todos os loucos Do progresso e da guerra A Joana Maluca, o Gasparito A desgraça daquela terra Nasci branco de segunda Calcinha ou kaluanda Nasci com os pés no mar Em São Paulo de Loanda." Nicolau Santos
Há uma acácia rubra plantada no centro do cemitério do Dondo lá, onde morreste e foste sepultada. Depois disso nunca mais o leão da anhara que trago dentro de mim rugiu. Um arbusto cresceu no meio do capim e o elefante passou e não comeu as suas folhas. As cubatas de Kalupere estão cobertas de colmo N'Dola de pescoço ornado com um colar de missangas, pequenas missangas que brilham, sorri para mim e eu, não a vejo. A hiena espreita os restos do leão o lobo corre atrás dos cabritos de Chipinde mas o leão da anhara que trago dentro de mim já não assusta ninguém nunca mais rugiu nas noites escuras sem luar, é o cordeirinho balindo na nossa infância perdida. Os velhos dizem que os bois têm medo de atravessar o rio, por causa dos jacarés. Passam mulatas homens listrados como zebram são meus irmãos. As cubatas de Kalupere estão cobertas de colmo a serpente é o símbolo da fertilidade o leão nunca mais rugirá. O abutre virá amanhã comer as galinhas de N'Dondo a galinha nunca voara como o abutre Kalupere sorri sempre que passa no entroncamento dos caminhos. Sabe-se lá por que é que ele sorri? .
Ernesto Lara Filho