domingo, 2 de fevereiro de 2014

XANDINHA !




















Xandinha era nome gozado de mulher catita e cheirosa .
E, como era dengosa a negra Xandinha !
Alta , de trança brilhante e olhos profundos da cor do mel .
Estreita de anca e cintura fina . Perna bem feita a da Xandinha !
Usava sapato alto . Bem alto . Que custa saber andar .
Vermelho ... Daquele vermelho  vivo , muito vivo ,
que nem sangue de pitanga madura.
Uma loucura !

Xandinha passava e negro pegava fogo no coração .
Negro parava e olhava ... olhava ...
Olhava Xandinha  linda. muito linda e séria .

Miúdo pequeno se afastava dela e largava arco do mão .
E escondia nos costa bola de trapo .

Depois , bem , depois ...
Corria no trás de Xandinha mesmo c'até no fim do rua ,
rindo e saltando no frente , dizendo :
Tchau Xandinha , Tchau ...

Xandinha sorria e não dava mais confiança .
E formosa sumia !

Xandinha era mesmo assim.
Bonita  ... manhosa ... gostosa !
Era chama de musseque . Era vida . Não era mulher perdida .
Juro com Deus !

O Lixeira não tinha outro  gente igual  !

No outra sexta-feira recebera uma convite para o farra do amanhã .
Até que era bom , pensou ...
Rebita selecta no kubata do mundele  senhor António ...
Até que era bom !

Mutemba ... gira-disco novo , coluna do som ,
Disco do Vum-Vum , doce do coco , cuca , gasosa ,
doce do ginguba , churrasco do galinha ...

Bichinho que mora memo dentro daquele corpo malandro
não deixou Xandinha negar .
E foi !

Aiué ... aiué ... farra que nem lhes conto ...


Xandinha gingou ... gingou ... foi nos fora ,
foi nos dentro , mexeu , mexeu ... até que pernas doeu !
Então , cansou e sentou .

Comeu sande de chouriço, coxa do galinha ,
bebeu gasosa de morango e mission limão .

Falou ... falou ... não cansou de falar falado .
Mutemba prometeu . Prometeu  prometido ...
Pano bonito , lenço , fio , pulseira de missanga
brinco , sapato novo  ...

Xandinha gostou . Gostou de mais  ... e facilitou !
Amou Mutemba .

Mutemba era negro  com aspecto . Vaidoso .
Descomprometido . Bem falante . Com estudo .
Tinha 4ª classe , feito nos noite , no escola 87 .
Bate-chapa no oficina do senhor Romão .
Ganhava , te admira ... te admira admirado ,
100 escudo num só dia !

Os noite foi dormir ...
Os dia chegou !
Gente foi no ir . Os  farra acabou .
Mutemba se mandou e não voltou .
Não voltou nunca . Não voltou voltado !

Xandinha  procurou ... procurou ... procurou ... nos lugar todo de procurar .

Nos oficina ...  nada ; nos miúdo ... nada ; nos amiga ... nada ;
nos kubata  do sanzala ... nada .

Xandinha chorou mas  procurou .
Procurou sempre . Não cansou de procurar .
Procurou c' até no fim do procurar !

Tempo passou . Passou nos devagarinho devagar .
C' até  custou passar ... mas passou !

Filho homem  de Mutemba  do barriga da mãe nasceu nascido .
Igual , igualzinho que nem pai ... olho grande !
Mas Xandinha mulher negra e bonita
morreu na hora de morte morrida !

Porquê Mutemba ?
E agora  ?


Sérgio de Oliveira
    (18Jun1971)

 

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